CORONAVIRUS, A PANDEMIA DO PÂNICO

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Os Coronavirus (CoV) são endêmicos das populações humanas, respondendo por entre 15% e 30% de todos os casos de infecções do trato respiratório a cada ano. Existem centenas de tipos de CoV.

Em 2002-2003, por exemplo, o SARS-CoV foi o responsável pela pandemia de Síndrome de Angústia Respiratória Aguda (SARS, na abreviação em inglês) que se espalhou a partir da província de Guangdong, na China. Apesar da transmissão rápida, a pandemia de SARS-CoV resultou em uma taxa de moralidade inferior a 10%, e os óbitos concentraram-se mais em pessoas com comorbidades (idosos, imunossuprimidos, portadores de DPOC, ICC grave, etc).

Nenhum caso adicional de SARS-CoV foi detectado após o controle da epidemia em 2003. Contudo, em 2012, um novo tipo de CoV surgiu no Oriente Médio, sendo batizado de MERS-CoV (“Middle East Respiratory Syndrome-CoV”, ou Síndrome Respiratória CoV do Oriente Médio). Novamente, com as medidas de saúde pública usuais, a epidemia foi contida.

Em ambas as epidemias por CoV, é razoável pensar que as taxas de mortalidade foram bastante inferiores às divulgadas: o vírus causa uma síndrome respiratória que se parece uma gripe com resolução espontânea na imensa maioria das vezes. Como nem todo mundo que tosse e tem febre vai até um laboratório de ponta fazer uma Reação de Polimerase em Cadeia para saber se está com CoV ou não, os casos mais leves de infecção por CoV terminam passando despercebidos.

É inclusive bastante provável que tanto o SARS-CoV quanto o MERS-CoV estejam circulando por aí, completamente anômimos, disfarçados de “uma gripe um pouco mais forte”.

No começo de dezembro de 2019, uma nova epidemia de coronavirus teve início na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei (China). Desde então, casos de infecção pelo 2019-nCov já foram identificados em 20 países, mas a taxa de mortalidade vem se mantendo estável em torno de 2%: dos 6172 casos identificados laboratorialmente, foram registrados 133 óbitos.

Mais uma vez, deve-se levar em conta a imensidão de casos não-notificados, devido à falta de especificidade dos sintomas: a infecção pelo 2019-nCoV, como ocorre com outros membros da família, se assemelha muito a uma gripe.

Entretanto, de repente, como é típico deste mundo pós-moderno, onde “como eu me sinto com relação a algo” vale mais que “o que eu realmente deduzi a partir dos fatos”, as pessoas entraram em pânico.

“O Coronavirus vai matar toda minha família!”

“Chegou a hora da extinção da espécie humana!”

E por aí vai.

Mas o raciocínio é simples: se a infecção por 2019-nCoV for tão letal como Ebola, por exemplo,  a própria mortalidade do vírus impede sua disseminação, e é por isso que não temos pandemias de Ebola, ou Sabiá, ou Marburg, etc. As pessoas simplesmente morrem rápido demais para permitir a disseminação do vírus.

Não dá exatamente para confiar nos dados chineses até aqui, mas as medidas de saúde pública para contenção da transmissão estão sendo tomadas. Com base nas séries históricas de outros CoVs, a taxa de mortalidade deve ficar entre 5-10%, concentrando-se (novamente) em pessoas portadoras de comorbidades.

Não obstante esses argumentos, o inconsciente coletivo trata cada epidemia viral como se fosse um Retorno do Massacre da Gripe Espanhola:

Em 1918, uma gripe causada pelo vírus Influenza A do subtipo H1N1 se espalhou pelo planeta, dizimando entre 50 e 100 milhões de pessoas (ou até 5% da população mundial). O surto, que passou para a história com o codinome de Gripe Espanhola, foi a pandemia mais letal da história da humanidade

Contudo, o Influenza A subtipo H1N1, também conhecido como A (H1N1), é nada além de um subtipo de Influenzavirus A. Ele é a causa mais comum de gripe em humanos.

O que aconteceu em 1918 foi muito mais uma conjunção de um contexto geopolítico Pós-Primeira Guerra Mundial, com fome e miséria em toda parte, aliado a Estados arrebentados e sem noções básicas de saúde pública – ou mesmo condições para implantá-las de maneira coordenada e eficiente. E deu no que deu.

Vivemos em um mundo diferente de 1918, mas o inconsciente coletivo continua lá, angustiadamente preso na expectativa de uma reedição nos horrores da Gripe Espanhola…

Nos últimos 50 anos, testemunhamos o surgimento de vários coronavirus diferentes, que causaram uma imensa variedade de doenças humanas e veterinárias. É bastante provável que estes vírus continuarão surgindo (ou você acha que o Homo sapiens foi a primeira espécie de ser vivo a habitar este planeta?), e epidemias de CoVs acontecerão aqui e ali.

Elas causarão cerca de 10% de baixas entre os infectados, mas a Dengue causa até 20% de óbitos nas pessoas contaminadas. Apenas nos EUA, mais de 25 mil pessoas morrem por pneumonia bacteriana a cada ano. No Brasil, 5 pessoas morrem em acidentes de trânsito a cada hora.

Infelizmente, nada disso importa. Nenhum dado estatístico ou raciocínio lógico-científico importa. Tudo que os nervosos pós-modernos querem é curtir suas crises de pânico e ansiedade “em nome do fim dos tempos”.

Não é à toa que, dos 200 medicamentos mais vendidos no mundo, 40% trazem uma tarja preta no rótulo.

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Fontes:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4369385/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513241/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6025009/

3 COMENTÁRIOS

  1. O texto tem coisas boas e é bem legal acalmar o povo. Porém, tem várias imprecisões que fazem com que não tenha credibilidade. Infelizmente.
    Apenas um Ex. a mortalidade da Dengue.

  2. Alessandro, obrigado pelos valiosos esclarecimentos!Meu filho e esposa vão realizar a viagem de seus sonhos a Europa, na segunda quinzena de fevereiro.Se fosse vc, manteria a viagem?Desde já agradeco!E bom ser sua amiga virtual, sempre aprendendo com vc!Abraco!

  3. Boa tarde, então com os cuidados básicos, de higiene, não há motivos para pânico, que claro os meios de comunicaçao hj, tipo net transformam em um bucho de 07 cabeças, e o boato que esse vírus, n suporta temperaturas altos tipo 32 graus e vdd.

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