Por que as mulheres argumentam e discutem tanto?

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Essa é uma queixa bem frequente que ouço de amigos e pacientes quando falamos a respeito de seus relacionamentos românticos. Eu sei que homens também se queixam bastante (a masculinidade possui tantas camadas quanto a feminilidade), mas, aqui, gostaria de explicar um pouco como a coisa acontece do lado dela. Quem sabe, esta seja uma reflexão útil para você.

Eu entendo bem que, muitas vezes, não temos tempo suficiente para explorar e compreender alguns desafios que se apresentam à nossa frente. Por isso, para aqueles que procuram uma explicação rápida para a pergunta “por que as mulheres argumentam e discutem tanto?”, aqui vai uma resposta básica: porque ela está descontente com alguma coisa em sua própria vida.

Tudo bem, essa não é exatamente uma resposta muito descritiva… quando sua mulher começa a discutir com você por um motivo que, do seu ponto de vista, não tem muita importância, não é necessário grande talento para deduzir que “ela está descontente com alguma coisa em própria sua vida”. Todavia, se você quiser uma explanação mais detalhada que apenas esta frase – e caso você esteja em um relacionamento realmente sério e que espera que dê certo –, o restante deste artigo foi escrito para isso. Se você está apenas na fase da pegação ou ligou o botão de “dane-se o mundo”, este é o ponto a partir de onde você pode parar a leitura.

Pois bem: vamos dizer que você é um homem heterossexual em um relacionamento romântico com uma mulher por quem nutre um amor genuíno. Você dedica um esforço consciente para fazer com que o clima entre vocês seja sempre leve, afetuoso, confiável, transparente e digno, esperando receber em reciprocidade algum reconhecimento, alguma valorização, algum afeto. Se isso descreve mais ou menos onde você se encontra, saiba desde já que você não está sozinho. Não mesmo. Ao longo de mais de 25 anos de prática médica e mais de 180 mil pacientes atendidos, conheci centenas – quiçá milhares – de homens assim. Homens apaixonados por suas mulheres que, em um certo momento, foram surpreendidos por uma discussão pesada sem causa específica aparente.

Dependendo da fase do relacionamento, e dependendo do nível de excelência do relacionamento até aqui, aquela discussão desnecessária fez você ir em busca de esclarecimento. “Que diabos está acontecendo com ela?”, talvez você tenha pensado.

Em geral, nos primeiros meses juntos – ou mesmo nos primeiros 5 ou 6 anos –, o casal vive uma “lua de mel” e faz depósitos imensos de ternura e expectativas. Quando as tempestades hormonais começam a passar e a poeira abaixa, as cobranças pelas expectativas se tornam mais frequentes – assim como as frustrações. As decepções por algumas coisas que deveriam ter acontecido e não aconteceram vêm à tona e, como duplicadas vencidas e guardadas lá no fundo do subconsciente, elas agora batem à porta para cobrar a conta.

A capacidade de lidar com essas dívidas dependerá do quão vocês estão conectados emocionalmente, do quanto as pontes de diálogo estão abertas e de quantas vezes você mesmo (ou ela mesmo) já passou pelo fim de “tempestades hormonais” parecidas. Quanto menor for a experiência de um ou de outro – ou de ambos –, mais complicado será lidar com as discussões dela, e mais mecanismos de defesa do Ego (principalmente Negação, Deslocamento, Projeção e Formação Reativa) se levantarão impondo barreiras para o entendimento. Lamentavelmente, até por volta dos 50 anos de idade, os humanos são mais propensos a não compreender conscientemente sua biologia e sua psicologia, e as coisas quase sempre são realizadas com mais atrito que o necessário.

Independente de sua faixa etária, uma discussão com sua mulher – e aqui me refiro àquelas discussões “bobas” que você não sabe direito de onde vieram (uma hora, está tudo bem; duas horas mais tarde, ela está com a cara mais azeda que um copo de leite do ano passado) – frequentemente resulta em uma série de questionamentos internos. Além do clássico “que diabos está acontecendo com ela?”, você também poderá se perguntar:

“Por que ela vive causando brigas desse jeito?”
“O que eu fiz dessa vez para que ela ficasse assim?”
“Por que ela sempre acha que tem a razão em tudo?”
“O que ela quer de mim, afinal de contas?”
“Será que ela vale a pena essa bagunça toda?”

Sublinhando novamente: se você está em um relacionamento em que fez algum investimento emocional e pelo qual torce para dar certo, essas perguntas aparecerão, e elas são legítimas.

Qual é a causa?

A primeira explicação a ser considerada é: talvez ela tenha sido sempre uma mulher de “opiniões fortes” e, no começo do relacionamento, cheio de hormônios e desejos, você nem prestou atenção nisso ou talvez até tenha achado esse traço de personalidade atraente nela. Contudo, com o passar do tempo, o desgaste produzido por essa competitividade incessante gerou rachaduras no casco da relação e o navio todo está começando a naufragar.

Também é lúcido considerar que ela talvez tenha tentado resolver algumas pendências emocionais com você – e você nunca resolveu qualquer uma delas. Homens podem ser turrões (eu sou turrão), e nem sempre escutamos essas demandas com a devida atenção. Quando essas carências enchem o copo, qualquer gota de frustração faz o caldo derramar por inteiro.

Outra razão que deve ser cogitada é a possibilidade dela sofrer de algum tipo de transtorno psicológico ou psiquiátrico – traumas causados por outras relações, traumas da infância, transtorno bipolar, transtorno de personalidade borderline, abuso de álcool ou drogas, etc. Nem todo mundo que sofre de algo assim tem consciência do diagnóstico. Havendo a suspeita, uma avaliação profissional especializada é sempre recomendada.

Finalmente, outros motivos que devem ser considerados incluem:
– Ela está exteriorizando sentimentos reprimidos do passado que nada têm a ver com você.
– Ela está passando por alguma turbulência emocional externa ao relacionamento (conflitos no trabalho, dificuldades com as crianças, problemas com os próprios pais, tensão pré-menstrual, etc).
– Ela está sofrendo problemas de autoestima e, na tentativa de se livrar disso, despeja todo o desgosto sobre a pessoa mais próxima – neste caso, você, meu amigo.
– Ela cresceu em uma família onde discutir sobre tudo o tempo inteiro era a principal dinâmica utilizada para resolver todo e qualquer atrito.

Ok, então o que fazer?

A despeito do motivo, discussões repetidas são uma maneira bem eficaz de desgastar um relacionamento, acumulando criticismos que terminam desaguando em desrespeito, ataques de fúria, mentiras, manipulação e outros comportamentos imaturos. Nenhum amor é capaz de resistir a um bombardeio desses. Na frente de uma discussão “aparentemente sem motivo”, o primeiro passo que você deve tomar é entender que a “argumentação excessiva” dela é, no fundo e apenas, comunicação. Homens tendem a tentar resolver as coisas fazendo algo; mulheres tendem a tentar resolver as coisas falando sobre algo.

Quando você remove do diálogo o tom de voz irritante dela, desconta a linguagem corporal agressiva e elimina qualquer palavra de baixo calão ou ofensa (em geral, utilizamos isso quando queremos parecer mais poderosos na frente de nossas vulnerabilidades), o que sobra? Informação. E a informação que ela está tentando passar é: “estou me sentindo machucada por dentro e quero resolver, mudar ou eliminar da minha frente isso que está me irritando e/ou me deixando insegura”.

Ao dissecar a informação que está sendo passada, observe se sua mulher está sendo argumentativa ou assertiva. Uma pessoa assertiva está em busca simplesmente de apontar objetivamente um problema e encontrar uma solução. Uma pessoa argumentativa está imbuída de uma motivação ilógica para vencer uma discussão custe o que custar – e qualquer coisa que você falar que destruir um argumento será utilizado por ela como desculpa para ser evasiva, esconder responsabilidades, confundir tudo e iniciar um novo argumento com furor redobrado, e assim por diante, até que ela se sinta vitoriosa. Por isso, após identificar a informação, aponte a diferença entre ser argumentativo e assertivo. Abandone o primeiro cenário e conduza o foco gentilmente (porém firmemente) para a segunda opção. Mais uma vez: isso pode ser feito de modo saudável apenas quando lidamos com alguém que não sofre de algum transtorno neurológico grave. Tentar agir de maneira lógica com alguém em uma crise psicótica ou em um surto por consumo exagerado de álcool, por exemplo, não é lógico.

Se vocês conseguiram avançar até um meio-campo de entendimento, esclareça que ficar falando repetidamente sobre o que está dando errado servirá apenas para manter vocês dois em um estado de estresse e ansiedade, adicionando mais e mais barreiras para a resolução do problema. Desarmem-se, identifiquem o verdadeiro foco de atrito e comecem a buscar uma solução satisfatória para ambos. Se for necessário, veja com ela se vocês poderiam fazer uma pausa de algumas horas para acalmar os nervos e então retomar o argumento a partir do ponto da solucionática invés de consumirem mais 5 horas no ringue da problemática.

Uma vez alcançado este acordo, certifique-se de que seus próprios mecanismos de defesa não sejam empecilhos para uma boa rodada de negociações: ouça-a com franqueza, mas, quando chegar sua hora de falar, exija o mesmo comportamento. Se vocês nutrem amor um pelo outro, tenho certeza de que nenhum dos dois tem a intenção de passar as próximas décadas em um combate sem fim, vivendo uma alternância de antagonismos e esgotamentos. Não raramente, a solução e a restauração da paz estão mais próximas do que você ou ela pensam. Sejam adultos e construam esse caminho juntos.

Criar um relacionamento romântico significativo, blindado e épico pode ser uma tarefa trabalhosa. É como cuidar de uma plantação: é preciso sempre algum labor, afofar a terra, semear, irrigar, retirar ervas daninhas, realizar a colheita, armazenar os frutos em um lugar abrigado e então começar tudo de novo. Felizmente, com o devido grau de maturidade e sabedoria, você será capaz de fazer isso. E lhe garanto: se tiver a pessoa certa ao seu lado, os resultados valerão cada grama de seu esforço.

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