A PERSISTENTE ILUSÃO DA LIBERDADE

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Não raramente, em pesquisas online verificando qual “item da existência” as pessoas considerariam realmente mais importante em suas vidas, a Liberdade aparece entre os primeiros 5 colocados. Dependendo do momento e do contexto, o desejo por Liberdade ganha do desejo por dinheiro, fama, respeito, saúde, paz e amor.

Mas será que os humanos se dão conta do que significa Liberdade? Sendo mais explícito e incisivo: será que os humanos REALMENTE consideram o que significa Liberdade?

Observe um pássaro – um dos símbolos mais recorrente de “liberdade” que temos. Ele é livre? Não mesmo! Primeiro, ele está preso dentro da natureza de ser um pássaro. Ele está preso em não conseguir latir como um cachorro ou correr como um cavalo. Segundo, ele está preso nas contingências de sua existência: precisa respirar, comer, beber água, atender suas necessidades excretoras fisiológicas, evitar predadores, arrumar um abrigo na tempestade, providenciar acasalamento se assim o desejar (pássaros não acasalam sozinhos, caso você ainda não tenha se dado conta deste fenômeno), etc. Terceiro: ele está preso em seu elemento. Colocado debaixo d´água, dentro de um vulcão ou no vácuo do espaço sideral, o pássaro deixará de ser pássaro. Um pássaro também está preso em seu instinto e em suas escolhas. Finalmente, ele está preso no Tempo – pois o Tempo é finito para os pássaros, e, eventualmente, o Tempo daquele pássaro terminará.

No caso dos humanos, temos variáveis ainda menos negociáveis que as variáveis do pássaro. Você deseja a Liberdade? Qual liberdade? Liberdade do Estado? Liberdade de expressão? Liberdade das pessoas como um todo?

Antes que você especifique o tipo de Liberdade que busca, permita-me lhe informar alguns detalhes: suas roupas não foram costuradas por você. A energia elétrica e a água que chegam na sua casa não foram produzidas por você. As ferramentas que usa não foram forjadas por você. A Internet que você usa não é mantida por você. O recolhimento do lixo e a troca das lâmpadas nos postes da sua rua não são feitos por você. Mas você defende a Liberdade. Qual Liberdade? Liberdade de quê? Você defende a Liberdade do comércio voluntário de órgãos, da prostituição de incapazes e da venda e compra de artefatos nucleares?

Seu hino por “liberdade” é um sintoma de quem ainda vive na infância do Mundo, negando a realidade dura desta “realidade” – mas, lamento informar, se continuar assim, esta realidade terá consequências não exatamente agradáveis para você. E andar por aí fazendo a pregação da “Liberdade” sem saber exatamente o que ela significa é comportar-se como uma criança que escreve cartas para Papai Noel listando os presentes que deseja para o próximo natal. O fato é que, para tornar a tão sonhada “Liberdade” algo real e concreto, você terá que impor limites à própria Liberdade que defende. Uma incongruência e tanto, não?

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