OS CADÁVERES DO EVEREST – e a paixão brasileira pelo deboche e pelo fracasso

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por Felipe Lacerda Bicalho*

 

Circula muito por aí uma imagem ironizando “cadáveres otimistas no Everest”, alegando que, assim como o inferno está cheio de gente bem intencionada, o Everest está cheio de cadáveres de gente que acreditou em seus sonhos. Quase numa alegação de que, afinal, acreditar não te leva a lugar nenhum e você morre na praia. Como se cada um daqueles cadáveres fosse um retardado motivado (a imagem que circula até faz uma brincadeira com “dica anti-coaching”, que achei bem espirituosa).

Vou aproveitar a imagem pra refletir sobre duas coisas.

Primeiro: a afirmativa está certa. Todos os que estão mortos no Everest saíram de casa acreditando que chegariam ao topo.

Segundo: essa afirmativa também revela uma coisa muito “interessante” sobre a mentalidade do brasileiro – ele prefere não ter o trabalho. Sempre. O brasileiro enxerga os sonhadores como imprudentes, os ousados como irresponsáveis e os bem sucedidos como criminosos. E fazendo o melhor que sabemos, debochamos dos que tentam grandes feitos.

O sucesso é corpo estranho no organismo brasileiro. Não sabemos lidar com ele. Não sabemos sequer entender as pessoas que acreditam nele.

Nós, brasileiros, não somos um povo otimista e positivo, cheios de simpatia. Não mesmo. Somos cruéis e covardes. Tendemos a desmerecer todos que almejam grandes empreitadas, desconfiamos dos corajosos e acreditamos que a virtude, a honra e a bravura são atributos de gente iludida. O brasileiro é ressentido e habituado demais ao fracasso. Nesse ponto, prefiro me destacar do pensamento do brasileiro médio – e recomendo que você faça o mesmo.

A mudança de pensamento é fundamental: eu sou brasileiro e vivo no Brasil, mas não preciso ser igual a isso. Porque almejo resultados diferentes, ainda que sob o risco de ser um cadáver no Everest.

A média do brasileiro vive pra pagar conta, não edifica nada significativo pra humanidade e não acredita que seja capaz de grandes feitos. A maioria sequer acredita possuir qualquer relevância na própria localidade.

O brasileiro é povo tão ressentido que parece aquela sua tia fracassada e divorciada, que aos 40 e sozinha, tenta lhe convencer (debochando de sua ingenuidade) que o amor não existe e acreditar nos sonhos é bobagem.

O brasileiro médio é a metáfora perfeita do fracassado que faz escárnio do sucesso alheio.

E sabe porque não encontramos tão recorrentemente esse tipo de pensamento em países mais ricos ? Justamente pela razão que levaram eles a serem mais ricos.

Além de conjecturas históricas mais favoráveis , as pessoas nesses países são levadas a acreditar em si mesmas em vez de darem as mãos uma as outras para chorar e terem penas de si mesmas juntas. O vitimismo é alvo de deboche, não a Coragem. O fracasso é questionado, não o sucesso. Tentar subir o Everest tem mais importância que os cadáveres dos que morreram sem conseguir.

Você pode estar aí agora torcendo o nariz e me chamando de puxa saco de estrangeiro, ou cuspindo sobre a tal síndrome de vira latas, mas qualquer conversa com um estrangeiro de um país rico você irá perceber a NÍTIDA diferença de pensamento. E essa diferença, é claro, se reflete em todos os aspectos da vida e da relação com as pessoas.

Tenho uma amiga alemã que certa vez, ao ver o povo brasileiro zoando o Neymar na Copa, disse sem entender: “mas vocês não amam Neymar? O mundo todo conhece ele por ser bom!”.

Ela percebia que o brasileiro gosta do Neymar, mas simplesmente não entendia como o brasileiro fazia escárnio tão sujo de gente que admira. Na visão dela, deveríamos ter orgulho de um brasileiro conhecido positivamente no mundo todo.

Eu não gosto de futebol, nem ela, mas você percebe como a diferença de pensamento é gritante? Como o brasileiro não valoriza o Mérito? Como ele sempre dúvida do sucesso seu e dos outros? E como, disfarçado de piada, o brasileiro vomita inveja?

A notícia boa é que dá para mudar esse modo medíocre de pensar.

A notícia ruim é que vão chamar você de vendido.

Já sofri muito com este tipo de julgamento, mas hoje não me importo mais. Prefiro, com cada célula do meu ser, ser um cadáver no Everest e morrer acreditando no sucesso e na vitória que ser um patético arremedo de gente, sentado na pasmaceira existencial, vivendo pelo raso, sem coragem e fé.

Eu não quero ser aquele que chama a si mesmo de inteligente enquanto afunda em ressentimento e deboche, amargurando tédio existencial e fracasso.

Eu prefiro acreditar que vou chegar ao topo, mesmo sob o óbvio risco de não chegar.

Prefiro estar no time de brasileiros que mudam o mundo.
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*Felipe Lacerda Bicalho é um empresário mineiro, 32 anos, escritor e dono de uma profunda antipatia pelo coitadismo que parece reinar como norma no Brasil. Siga no Instagram: @lacerdismos

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