QUEM TEM FILHOS É MAIS FELIZ?

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Se você fizer uma reflexão rápida ou questionar as pessoas que conhece, perguntando “ter filhos é uma fonte inegável de alegria?”, a resposta será um “sim!” instintivo na esmagadora maioria dos casos. Não é à toa que somamos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo: além de produzir Felicidade, o sexo também produz filhos, e eventualmente o segundo propósito predomina sobre o primeiro. Eventualmente, fazemos sexo não com o intuito de obter Felicidade instantânea, mas para produzir descendentes que, achamos, resultarão em mais Felicidade no futuro.

A percepção de Felicidade depende de fatores como renda, empregabilidade, estado civil, religiosidade, nível de educação, qualidade de moradia, taxas locais de criminalidade, traços de personalidade geneticamente programados, etc. Como não poderia deixar de ser, os filhos são uma variável importante nesta equação, pois eles oferecem um mar de possibilidades para gratificação, identificação pessoal, propósito de vida, conexão com outras pessoas e – teoricamente – melhora da autoestima e da saúde mental4.

Alguns dizem que ser pai ou mãe é uma experiência transformadora, com uma relação única de custos e benefícios; outros afirmam que o efeito global de “ter filhos” sobre a Felicidade é zero; e outros dizem que filhos são um passaporte certo para a apreensão, o desprazer e a infelicidade1,2,3. Qual dessas afirmações é a mais correta? Bem, tudo dependerá de sua configuração…

Pessoas que tem um filho em idade mais avançada e possuem níveis educacionais melhores, tendem a ser mais felizes com eles. Ter dois filhos do sexo masculino diminui a percepção de Felicidade, mas ter duas meninas não. Em todo caso, um segundo filho aumenta a felicidade, mas um terceiro não5. Entre mulheres pobres, a maternidade oferece significado e propósito em suas vidas6, e, de um modo geral, o nascimento de um filho traz mais felicidade para as mulheres que para os homens – mas esta diferença desaparece quando a criança atinge 2-3 anos de idade7.

Homens e mulheres que tiveram filhos antes dos 23 anos tendem a ser mais deprimidos. Após esta idade, ter filhos parece diminuir o risco de depressão3. Mais tarde, quando adultos, os filhos exercem um impacto positivo no bem-estar de seus pais, sendo uma fonte potencial de auxílio para pais e mães na velhice3.

Na somatória destas evidências, seria de se pensar que a afirmação “filhos trazem Felicidade” seria correta. Não obstante, enquanto as mães tendem a se estressar com os conflitos entre a maternidade e seu desempenho profissional, os pais preocupam-se com a carga financeira associada às crianças. Em ambos os casos, a preocupação se instala, colocando a Felicidade em risco. E os problemas não param aí.

Recentemente, o baixo nível de bem-estar emocional encontrado entre pessoas com filhos quando comparadas com pessoas sem filhos em países desenvolvidos levantou a curiosidade de cientistas, políticos e do público em geral. Pessoas morando com filhos pequenos relataram uma maior incidência de sintomas de depressão, ansiedade, estresse, raiva e infelicidade que pessoas sem filhos ou com filhos que moram fora de casa.

Adultos jovens sem filhos relatam uma percepção de Felicidade maior que aqueles com filhos. Na meia idade (por volta dos 50 anos), pessoas que não tiveram filhos não apresentam uma incidência maior de problemas psicológicos que pessoas que tiveram filhos. A partir dos 70 anos de idade, mulheres que não tiveram filhos não apresentam uma incidência maior de depressão e sentimento de solidão – mas os homens, sim. Para completar, pessoas cujos filhos cresceram e saíram de casa não referem uma percepção de Felicidade maior que pessoas que nunca tiveram filhos2,3,4.

O fenômeno de que os filhos podem comprometer a Felicidade – ou não estão necessariamente associados a ela – parece ter começado com as revoluções sociais que marcaram o início da década de 1970. Foi a partir desta época que as recompensas emocionais de ter filhos passaram a ser massacradas pelos custos emocionais e financeiros da Pós-Modernidade, e os filhos começaram a ser associados a sintomas de estresse, depressão e ansiedade, além de emoções negativas como raiva, incerteza e diminuição da percepção global de Felicidade.

De fato, a paternidade ou a maternidade per se não prediz Felicidade. Quando ocorre na adolescência, o evento compromete o ganho de educação formal e as oportunidades de trabalho, além de aumentar a instabilidade marital – fatores que podem minar a Felicidade no curto e no longo prazo. Como consequência, em 1975, 15% das mulheres norte-americanas com menos de 35 anos não tinham filhos. Em 2000 este porcentual atingiu 28% – e isto em um país desenvolvido, onde ter filhos é mais uma escolha hedônica detalhadamente antecipada que um acidente de percurso3. Em países subdesenvolvidos, o buraco é mais fundo, uma vez que o planejamento familiar não é tão eficaz ou voluntário e os filhos ocorrem em pais com idades mais tenras. Como consequência, nestes locais, a maioria dos pais refere que ter filhos causou uma diminuição de sua percepção geral de Felicidade2.

A conclusão Pós-Moderna é que, se sua vida emocional está madura e estável, você já passou dos 30 anos de idade, tem boa educação, boa renda e boa moradia, e os filhos (de preferência em número de dois) foram fruto de uma escolha voluntária e não um tropeço, provavelmente você experimentará um aumento da sua Felicidade assim que eles passarem dos 3 anos de idade. Se algum desses itens não corresponde ao seu perfil (por exemplo: sua vida conjugal está uma porcaria ou você tem menos de 30 anos e produziu uma ou mais crianças por negligência ou imperícia), é quase certo que os filhos diminuirão sua percepção de Felicidade.

Finalmente, caso sua opção tenha sido “não ter filhos”, ao longo de sua vida você experimentará uma Felicidade mais contínua que pessoas que tiveram filhos, com uma ressalva: se você for homem e chegar solteiro aos 70 anos de idade, as apostas estarão contra você.

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Referências:

  1. Michael Argyle. The Psychology of Happiness. Routledge (2002).
  2. Cetre S, Clark AE, Senik C. Happy People Have Children: Choice and Self-Selection into Parenthood. Eur J Popul. 2016 Aug; 32(3): 445–473.
  3. Umberson D, Pudrovska T, Reczek C. Parenthood, Childlessness, and Well-Being: A Life Course Perspective. J Marriage Fam. 2010 Jun; 72(3): 612–629.
  4. Glass J, Simon RW, Andersson MA. Parenthood and Happiness: Effects of Work-Family Reconciliation Policies in 22 OECD Countries. 2016 Nov; 122(3): 886–929.
  5. Myrskyla M, Margolis R. Happiness: before and after the kids. 2014 Oct;51(5):1843-66.
  6. Umberson D, Pudrovska T, Reczek C. Parenthood, Childlessness, and Well-Being: A Life Course Perspective. J Marriage Fam. 2010 Jun; 72(3): 612–629.
  7. Margolis R, Myrskyla M. Children’s Sex and the Happiness of Parents. Eur J Popul. 2016; 32(3): 403–420.

 

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4 COMENTÁRIOS

  1. Esse texto nos leva a pensar. Tenho dois garotinhos 2 e 4 anos e já vem um terceiro, posso afirmar que ao mesmo tempo que aumentou o estresse e preocupação, o senso de propósito também aumentou, me dando mais disposição para crescer e ser um homem melhor!!!

  2. Convém refletir no que vem a ser a tal Felicidade, se ela é auferível por critérios objetivos, mesmo que restritos ou se seu fundamento tem raízes mais subjetivas, ligadas à criação, crenças e valores educacionais

  3. Pois é. A tal felicidade… Convém fazer um posto sobre isso! A doença do politicamente correto…. O mimimi… O egoísmo do ” eu mereço ser feliz” iniciados nos anos 70 com as grandes liberações de drogas e de sexo e a pílula “liberando”as mulheres pra serem o que elas quiserem… Tudo isso mudo muito a percepção de felicidade! Felicidade é fazer o outro feliz! E quanto mais “outros “próximos felizes melhor! Filho é graça Divina. Família é graça Divina! Sempre devem ser motivo de felicidade! Lembrando que felicidade não é apenas um sentimento passivo… Na minha opinião sinto_ me feliz com minha razão! Ativamente! Por vontade!

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