O ARDIL DO “MUNDO JUSTO”

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Uma mulher vai a uma balada vestindo um microvestido sem calcinha. Ela fica pra lá de bêbada e, no caminho para casa, pega a direção errada, entra em um bairro barra pesada e termina estuprada. A culpa é dela? Ela tem alguma responsabilidade sobre o ocorrido? Ela pediu por isso?

Em estudos teóricos que reproduzem esse cenário, as pessoas em geral respondem “sim” para todas as três perguntas.

No cinema, estamos acostumados a ver os malvados perdendo e os bonzinhos ganhando. É o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse. Na psicologia, a tendência de acreditar que é desta forma que o mundo real funciona é um viés de cognição chamado “O Ardil do Mundo Justo”.

Mais especificamente, esta falácia é como uma lente através da qual você enxerga o mundo. Por meio dela, você observa a miséria, os infortúnios e os destinos terríveis de seus semelhantes e se consola pensando que “se eles estão passando por isso, fizeram alguma coisa por merecer!”.

A palavra-chave aqui é “merecer”. Ao raciocinar olhando o mundo por esta lente, você não estabelece observações causais – escolhas ruins levam a destinos ruins. Não. “Escolhas não tem nada a ver”, diz sua mente. “As pessoas recebem o que merecem”.

O QUE DIZEM OS ESTUDOS?

Em uma pesquisa conduzida por Melvin Lerner e Carolyn Simmons em 1966, 72 mulheres observaram uma outra mulher enquanto esta resolvia problemas e recebia choques quando errava. Na verdade, a vítima estava fingindo levar os choques, mas as observadoras participantes não sabiam disso.

Lerner realizou o estudo com base no que testemunhou durante seu trabalho em instituições psiquiátricas: notou que ele próprio, além dos demais médicos e enfermeiros e assistentes, algumas vezes insultavam os pacientes ou tiravam conclusões sobre que tipo de pessoas eles eram ou faziam piadas sobre suas moléstias. Lerner pensou que este comportamento poderia ser uma tentativa de proteger a psique dos profissionais enquanto lidavam com situações crônicas de tristeza e desespero.

Na pesquisa, quando solicitadas a descrever a mulher tomando os choques, uma parcela considerável das observadoras a desqualificou com comentários depreciativos sobre suas roupas e aparência. Diziam que “ela merecia” os choques.

Lerner era professor de sociologia e medicina, e observou que muitos alunos encaravam pessoas pobres como seres humanos preguiçosos que mendigavam “um empurrãozinho”. Ele conduziu então outro estudo, onde dois homens montavam um quebra-cabeças. No final, um deles recebia uma grande quantia em dinheiro. Os observadores eram informados que o prêmio era oferecido de maneira completamente aleatória, mas, ainda assim, quando solicitados a manifestar suas opiniões, eles tendiam a dizer que o homem premiado era mais talentoso, mais hábil e mais produtivo que o outro.

Diversas outras pesquisas realizadas desde os estudos iniciais de Lerner apenas forneceram mais evidência de nossa tendência em querer que o mundo seja justo. Quando em dúvida, fingimos que ele é.

Zick Rubin (da Universidade de Harvard) e Letitia Anne Peplau (da UCLA) estudaram as características das pessoas com fortes crenças em um mundo justo. Ambos descobriram que essas pessoas tendem a ser mais religiosas, autoritárias, conservadoras, admiradoras de líderes políticos, e apresentam uma maior propensão para atitudes negativas com relação aos grupos menos privilegiados. Finalmente, os “crentes do ardil do mundo justo” sentem uma necessidade menor de se envolver em atividades para mudança de valores ou para aliviar o sofrimento de vítimas sociais.

O MUNDO NÃO É UM CÍRCULO PERFEITO

Você já ouviu dizer “o mundo dá voltas e voltas”, ou “tudo que você faz, receberá em dobro”, “aqui se planta, aqui se colhe”, e etc. Ou talvez já tenha visto alguém se ferrando e pensou: “o karma não falha!”. Todas essas são manifestações do mesmo engodo, o Ardil do Mundo Justo.

É uma merda pensar que o mundo não é justo, eu sei. Existe um conforto sentimental em acreditar em karmas e na recompensa da justiça divina, em crer em um mundo onde os virtuosos estão de um lado e os maus, do outro. Essa dicotomia é agradável para o cérebro. Você deseja acreditar que aqueles que trabalham duro e se sacrificam chegarão na frente por seus méritos, e aqueles que são preguiçosos e trapaceiam não chegarão a lugar algum.

Infelizmente, esta nem sempre é bem a verdade. O sucesso é grandemente influenciado pelo período e pela época em que você nasceu, onde cresceu, o nível sócio-econômico da sua família, e pelo acaso. Todo trabalho do mundo não será capaz de mudar os primeiros fatores – o que não significa que você deva abrir mão dos seus esforços.

O Ardil do Mundo Justo também pode levar a um falso senso de segurança. Você quer sentir-se no controle, então supõe que, desde que se mantenha longe de maus comportamentos, sofrerá mal algum. Lá no fundo, a criança em você anseia por acreditar que a virtude levará fatalmente ao sucesso, e a lassidão, o mal e a manipulação levarão à ruína – e, a partir dessa crença frágil, você edita a realidade para que ela combine com suas expectativas.

Por que agimos assim?

Talvez pela necessidade de prever o futuro ou para confirmar a retidão de nossas decisões passadas. A verdade é que o mal prospera, e nem sempre paga o preço. É ASSIM que o mundo adulto e real funciona. É ASSIM que ele opera. E entrar neste mundo ansiando algo diferente disso diminui consideravelmente suas chances de sucesso e aprendizado.

Você não é uma criança mais. Cresça! Evolua! Aceite e lute com conhecimento de causa e das armas em jogo – ou seja mais um tolo alimentando ilusões nas fileiras enfermas da seita do Ardil do Mundo Justo.

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