UM BRINDE AO DIA DEPOIS DO OUTRO

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Por gerações a perder de vista, os incontáveis povos que já passaram pela superfície no nosso planeta-grão-de-poeira sempre adoraram eleger datas festivas para comemorar o que quer que fosse. Isso é uma coisa tão prevalente que me atrevo a dizer que somos o produto de milênios de seleção natural de ancestrais baladeiros e nutrizes festeiras.

Por exemplo: no Festival das Cores, os hindus celebram a germinação das sementes e a nova colheita que virá com a primavera. Tudo muito bonito e sincronizado com as fases da Lua. Nos primeiros dois dias, todo mundo comportado com rezas, ladainhas e adorações. E então no terceiro dia… o festival vira festival mesmo e o bicho pega!

Um pouco para cima da Índia, os chineses não fazem por menos: a partir da metade de setembro e até por volta da primeira semana de outubro, eles comemoram o Festival do Bolo Lunar, uma tradição com mais de 3.000 anos que celebra a derrota dos invasores mongóis. E segue-se um troca-troca sem fim de pequenos bolinhos adocicados em formato de Lua cheia.

Os chineses são mestres em celebrações. Com 1,3 bilhões de pessoas, eles têm o próprio planeta deles por lá – tanto que o Ano Novo Chinês é comemorado entre 15 de janeiro e 15 de fevereiro. A tradição é soltar fogos de artifício, limpar a casa, sujar a rua com pequenos pedaços de papel vermelho e fazer muita comida, especialmente os Yau Gowk, bolinhos que simbolizam prosperidade.

Bolinhos chineses novamente. Fico imaginando o que esse povo tem com bolinhos. Deve ser algum fetiche. Sei lá.

Os muçulmanos comemoram o ano novo no meio do nosso ano. O ano novo judaico, chamado Rosh Hasanah ou a “festa das trombetas” (imagine a alegria dos vizinhos…), acontece em setembro, um pouco mais tarde que o reveillon dos chineses.

Os coreanos, mais animados, comemoram 2 anos novos: um baseado no calendário ocidental e o Seol Lal, baseado no calendário lunar chinês.

A primeira notícia que se tem de comemoração do Ano Novo no dia 1º de janeiro vem dos idos do imperador Julio Cesar, em 46 a.C, mas a data seria adotada pela cristandade apenas em 1582, com a oficialização do calendário gregoriano – que nos rege até hoje.

A celebração do Ano Novo marca um evento bastante simples e pouco altruísta: como nas demais festividades de todos os povos em todos os tempos, estamos celebrando nada mais, nada menos, que nossa própria sobrevivência.

Sobrevivemos a mais um giro, você completou mais uma volta. Ainda estamos aqui. Bata no peito, grite bem alto, levante sua taça – afinal, o ano se foi e você ficou! Agora, graças ao renascimento do calendário grudado na porta da geladeira, você poderá fazer novamente todas suas velhas promessas.

Celebrar a sobrevivência, apesar de previsível, não deixa de ser louvável. Nossos ancestrais miúdos, as amebas, vivem apenas dois dias. Uma miséria. Um glóbulo vermelho do seu sangue vive no máximo 120 dias: uma hemácia nascida no verão, provavelmente irá desaparecer antes do cair da primeira folha de outono. Pouquíssimas terão a oportunidade de conhecer o barulho de uma rolha de espumante.

Mesmo quando comparados a outros mamíferos, somos uma espécie longeva: um coelho vive apenas 10 anos. Gatos e cachorros, no máximo uns 18 anos.

Gorilas e chimpanzés, cerca de duas reles décadas. Nós? Vivemos uma média de 75-80 anos. Faz sentido comemorarmos coletivamente cada um deles.

Mas eu iria além. Se estas festas de todos os dezembros marcam nossa sobrevivência ao longo do velório do ano velho e o trabalho de parto do próximo, porque não celebrar mais frequentemente a sobrevivência? Celebrar a imensa felicidade de acordar e desfrutar mais uma vez o mundo e as pessoas. Quer dizer, nem todas as pessoas, apenas algumas pessoas. Bem poucas, pra falar a verdade. Mas elas estão por aí e merecem um alô.

Será que temos essa inteligência suficiente para comemorar o cotidiano? Para festejar a beleza elegante da evolução, a serenidade da sabedoria e o milagre absurdo que se esconde no simples fato de estarmos aqui?

Considerando que o ano novo é a simples realização de que estamos vivos, porque não exaltar cada novo dia? Cada raiar do sol esconde um novo ano particular, uma oportunidade única para você refazer os cacos e juntar o todo.

Que feliz ano novo que nada. Desejo mesmo a você e toda sua família um Feliz Dia Depois do Outro! E outro. E outro. E sempre.

Quer saber mais sobre o assunto? leia “INTELIGÊNCIA – UMA VIAGEM PELA CARACTERÍSTICA MAIS INCRÍVEL DO COSMO”.

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