O QUE OS HOMENS MASCULINOS PODEM ESPERAR DAS MULHERES?

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Zapeando pela Internet, deparei com alguns manuais de etiqueta antigos, mas bem antigos mesmo. E observei, com um bom grau de curiosidade, que as regras que ditavam o comportamento masculino ideal mudaram pouco nos últimos 100 anos.

Se olharmos, por exemplo, a Escala de Qualidade Marital para Homens elaborada pelo médico americano e conselheiro conjugal George W. Crane nos idos de 1939, observaremos que os “méritos” de um bom marido continuam sendo praticamente os mesmos.

Segundo a lista elaborada por Crane, o “bom marido” (pontuação igual ou acima de 76 pontos na Escala Marital) deveria ser fiel, cortês, atencioso, protetor, voltado para a família, altruista, educado, bem informado, bom provedor e “deixar o carro com a esposa sempre que ela precisasse”, entre outras coisas. Se você perguntar para suas amigas e conhecidas, verá que estas qualidades AINDA estão em alta e são bastante desejáveis no parceiro que elas procuram.

ALGUMAS COISAS NÃO MUDAM

Nós mesmos, homens do século XXI, consideramos esses pontos como altamente positivos. Eles representam nossas manifestações mais profundas de amor, carinho e consideração para com nossas parceiras. Ressoam dignidade, altruísmo, força, confiança e inteligência. Ou seja: em quase 1 século, o que as mulheres poderiam esperar dos homens – e o modelo ideal de super-herói no qual nos espelhamos – pouco mudou.

Provavelmente, um homem de hoje que fosse capaz de cravar uma pontuação de 76 na escala de Crane seria considerado um excelente partido. Nenhuma dúvida quanto a isto.

O problema começa quando você analisa a Escala Marital para Mulheres. Tudo bem, eu concordo que muitas das expectativas em ambas escalas parecem tolas e ingênuas nos dias atuais, mas se você exigisse de sua mulher que ela se comportasse de modo a tirar mais 24 pontos na mesma escala, provavelmente ela lhe atiraria aos cães raivosos no quinto dos infernos.

Para marcar 76 pontos ou mais na Escala Marital, a mulher deveria: ser SEMPRE gentil com os convidados em casa, preparar as refeições do seu homem nos horários esperados, ser capaz de ouvir e conduzir uma conversa interessante, tocar um instrumento musical, estar arrumada para tomar o café da manhã, manter a casa limpa e organizada, colocar pessoalmente os filhos para dormir, nunca ir para a cama à noite zangada, consultar seu marido sobre decisões e compras importantes, ter senso de humor, ser divertida, e permitir ao marido dormir calmo e sossegado nos domingos e feriados.

Alguma dúvida sobre os cães raivosos e o quinto dos infernos?

A mudança nos ideais para as mulheres do Século XXI indicam uma mudança óbvia de paradigma. As mulheres ainda se sentem à vontade para culpar os homens por suas próprias frustrações e têm grandes expectativas em relação a eles, MAS se um homem nutre qualquer expectativa em relação às mulheres, bem… ele está numa briga de cegos com foices.

EM BUSCA DA VELHA NOVIDADE

Em todo o mundo existe um movimento uníssono de retorno à masculinidade tradicional. As mulheres anseiam por isto, elas procuram pelo bom e velho homem de antes, seguro e protetor, e até mesmo os homens almejam este modelo. Todavia, para que ele dê certo, é preciso contar com a ajuda do adversário: se elas querem contar com homens que abrem portas e se preparam para encontros com romance e doçura, mas ao mesmo tempo os tratam com deboche e cinismo, então a matemática não irá fechar.

Se existem homens dando o máximo de si para ressuscitar os nobres valores da masculinidade antiga, mas eles não recebem um retorno positivo ou percebem que as mulheres não estão nem aí, temos então uma receita pronta para uma péssima interação entre os sexos, cheia de atritos e homens desiludidos pensando que as mulheres são uma bagunça pouco atraente e nada merecedora de seus esforços. (Tenho certeza de que esta é uma queixa que você já ouviu por aí antes em algum lugar, algumas dezenas de vezes…).

As mulheres adoram a ideia de resgate do homem cavalheiro, charmoso e honesto. “É exatamente o tipo que anda em falta!”, elas dizem agitadas entre as amigas na mesa do bar. Eu adoro perceber que as mulheres estão conosco neste movimento, mas isso me faz pensar: se os homens estão lutando para se tornarem mais Homens (“como eram antigamente”) e mais Masculinos, o que as mulheres estão fazendo para corresponder à essa dança?

Quando as mulheres dizem que não são a favor de uma sociedade sexista, e querem que os homens sejam Homens, elas devem estar preparadas para arcar com a contrapartida desta equação. Elas devem oferecer ao mundo mulheres que são Mulheres.

Não me entenda errado: o desejo de um homem em se tornar mais masculino tem muito pouco a ver com as mulheres e suas opiniões sobre ele. Basear suas vidas nas opiniões que as mulheres têm foi precisamente o equívoco que os homens cometeram nas últimas décadas. Foi exatamente essa busca desenfreada pela validação feminina que azedou o leite. Um homem deve buscar a verdadeira masculinidade para seu amadurecimento como homem e pronto. Ele deve fazer esta viagem em nome da honra por si e do autorrespeito. Não tem muito a ver com as opiniões femininas.

Agora, não cometa o erro reverso de pensar também que a Feminilidade tem nada a ver com a Masculinidade. Assim como definir a escuridão sem a presença de luz, seria extremamente difícil definir Masculinidade sem contrapô-la à feminilidade.

ONTEM E HOJE

Nos tempos idos, os homens sentiam-se motivados a serem honrados e virtuosos porque eles recebiam algo em retorno das mulheres em suas vidas. Colocar-se à altura do Homem que ele nasceu para ser exigia uma boa dose de sacrifícios, mas naquela época ele não se sentia só em seu esforço. Eles se vestiam com cuidado, levavam sua mulher para um encontro e pagavam a conta, faziam compras para casa, cuidavam de suas esposas e agiam como uma montanha de rocha sólida na proteção da família. Em retorno, eles contavam com mulheres que se vestiam com classe, eram atraentes charmosas, cozinheiras prendadas, cuidavam da casa e dos filhos, e faziam seus maridos se sentirem como um rei no seu castelo.

Hoje, temos esse novo padrão de “um peso com duas medidas”: é legal estimular os homens para que se tornem Homens masculinos de verdade, mas dizer a uma mulher que ela deve resgatar alguma coisa de sua feminilidade é ofensivo.

Uma mulher fala para seu homem parar de andar relaxado e se arrumar melhor? Super! Um homem fala para sua mulher parar de andar relaxada e se arrumar melhor? Machista!

Uma mulher falar para seu homem que ele deve trabalhar e arcar com as contas da casa? Super! Um homem falar para sua mulher que ela deve ficar em casa e cuidar das crianças? Machista!!

Uma mulher falar que o homem deveria tomar a iniciativa no relacionamento? Super! Um homem falar que a mulher deveria ser doce e submissa? Machista!!!!!

Deu pra ter uma ideia do andamento da carruagem? Existem DUAS razões principais para esta disparidade de julgamento.

Primeiro, os homens passaram a maior parte da história conhecida em uma posição de privilégio – apesar de algumas desvantagens (morrer em combate ou ser atropelado por uma manada de elefantes, por exemplo).

Então vieram os movimentos femininos dos anos 1950 e 1960 e os homens perderam sua posição intocável. Por isso, quando o assunto é recuperar certos aspectos da masculinidade tradicional, os homens mais que rapidamente pulam a bordo da ideia: não porque querem retornar à posição de reis, mas porque contemplam o passado com afetuosidade. As mulheres, por outro lado, lutaram um bocado para chegar à posição que têm hoje.

Ainda que elas não estejam completamente felizes com o que conquistaram, quando alguém comenta que elas deveriam recuperar valores do passado isto desencadeia uma reação de “traidoras da causa”. Se uma pobre alma sugere que elas deveriam ressuscitar a “feminilidade de antigamente”, as vozes ofendidas se erguem rogando mil pragas.

Segundo, historicamente, as mulheres sempre foram colocadas em um pedestal de “protetoras da moralidade”, ao passo que os homens foram retirados deste altar e classificados como bestas instintivas incorrigíveis. É socialmente aceitável castigar os homens, e não as mulheres, pela compreensão implícita de que as mulheres são “naturalmente” puras e não precisam de muita vigilância externa para serem “boas pessoas”. Algumas feministas ainda se apegam a esta ideia, a falácia de que “homens e mulheres são iguais etc e tal, mas, amiga, falando sério: todas nós sabemos que os homens no fundo não prestam”.

As mulheres dizem que não querem mais o pedestal. Chutaram o pedestal e jogaram-no na sarjeta. Elas dizem que colocá-las nele é Machismo. Elas querem oportunidades iguais, tratamentos iguais, salários iguais. Então… agora que nos tornamos iguais, que tal admitir que vocês mulheres devem arcar com algumas mudanças também?

Quem sabe, poderíamos dizer que, em nome da igualdade, você não deveria insistir em ser tratada como uma princesa e simultaneamente se achar uma mulher “totalmente independente”? (Porque essas duas coisas são incompatíveis, ilógicas e deixam qualquer um doido).

Que tal dizer que “liberdades iguais” significa que seu homem pode ir para a cozinha, mas você também pode? Ou assumir que muitos relacionamentos vão por água abaixo não porque “bons homens” são difíceis de se achar, mas porque você é tão paranoica em não perder sua “identidade de mulher moderna” que não consegue engolir o orgulho e entregar-se de corpo e alma ao seu parceiro?

Não estou pregando um movimento de “Mulheres: voltem para a cozinha!”. Não entenda errado de novo. Assim como o resgate da Masculinidade tradicional, a recuperação da Feminilidade tradicional também vai ser uma briga de cachorro grande – e uma empreitada talvez ainda mais dura que a primeira.

Mas nós começamos esse papo lá em cima perguntando: “o quê os homens masculinos podem esperar de suas mulheres?”. Então diz aí: quais aspectos da feminilidade você gostaria de ver ressurgir nas mulheres? Se você está reconstruindo sua masculinidade, o que espera das mulheres? Também seria interessante ouvir o que ELAS têm a dizer…

Que comecem os jogos.

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