DIREITA, ESQUERDA E OS PADRÕES MORAIS DAS FAMÍLIAS

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Para George Lakoff, filósofo e linguista cognitivo norte-americano, Direita e Esquerda podem ser diferenciados pelos modelos familiares dos quais derivam e, em uma trilha circular, ulteriormente produzem.

Segundo Lakoff, à Direita do espectro político-ideológico e no centro da filosofia Conservadora reside a figura do Pai Rígido; à Esquerda e no centro da filosofia Progressista, reside a figura da Mãe Cuidadora.

Disso resulta que o Conservadorismo está associado a um modelo familiar que podemos denominar Patriarcal Autoritativo, onde o pai é responsável por proteger e prover a família, tendo também a autoridade de determinar a política da casa, determinar regras de comportamento e impor suas leis domésticas. À mãe, cabem as responsabilidades do dia a dia, o cuidado com a casa, a criação dos filhos e o apoio irrestrito à autoridade do pai. Os filhos devem ser obedientes e disciplinados, pois assim desenvolverão um bom caráter. A autoconfiança e o respeito pela autoridade legítima são qualidades impreteríveis que devem ser ensinadas a todas as crianças e cobradas de todos os adultos. Dentro desta visão, o importante é ser tão meritocrático, justo e honrado quanto possível.

Por outro lado, na visão de mundo Progressista, a família ideal segue um modelo Maternal Cuidador: tudo deve ser impregnado de amor, empatia e atenção. As crianças se tornam responsáveis e respeitosas por meio do afeto, não através da autoridade ou do medo. Elas devem receber incentivos, não punições. Os pais devem ser pacientes e explicar detalhadamente os motivos de suas regras, e, se porventura, as crianças questionam as normas vigentes, isso deve ser visto como algo positivo e não desafiador. O modelo Maternal Cuidador enfatiza a assistência, a distribuição e a restituição. Dentro desta visão, o importante é ser tão inclusivo, politicamente correto e feliz quanto possível.

Cada um destes dois modelos de núcleo familiar apresenta um conjunto bem claro de prioridades Morais. Ainda que valores equivalentes estejam presentes em ambos os modelos, a ordem em que são colocados é diferente. Por exemplo: o caráter forte pode ser encontrado no modelo Maternal Cuidador, mas apenas na medida em que é colocado a serviço do cuidado com os mais fracos. No modelo Patriarcal Autoritativo, empatia e compaixão estão presentes e são importantes, mas jamais estarão acima da autoridade e da disciplina.

Se invertermos o raciocínio e partirmos dos modelos familiares para o desenvolvimento das ideologias políticas, é natural pensar que crianças oriundas de lares Patriarcais Autoritativos tenderão a desenvolver Identidades Pessoais de cunho Direitista e Conservador. Quando adultas, dirão que o governo deve sair do caminho para que sua autoconfiança e seu mérito tenham espaço para alcançar o sucesso.

Em contrapartida, crianças oriundas de lares Maternais Cuidadores tenderão para a Esquerda no espectro político-ideológico, vendo o mundo com olhos Progressistas, enxergando no Estado e no governo ferramentas essenciais para que as pessoas sejam ajudadas por meio de programas sociais.

Lackoff é bastante transigente – ou profundamente sábio – ao reconhecer que os modelos familiares e políticos relacionados ao Conservadorismo e ao Progressismo não representam filosofias monolíticas: ambos oferecem visões ricas do mundo, que se complementam de certa forma.

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