TRÊS DILEMAS SOBRE O ESTADO (PARTE 1): TAMANHO

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Nesta série de 3 ensaios rápidos, o jovem pensador Henrique Mazorque tece algumas considerações bastante pertinentes com relação aos dilemas que cercam o Estado: qual deveria ser seu tamanho? A democracia é a melhor forma de geri-lo? E como deveríamos financiá-lo?

Os ensaios, escritos de maneira dinâmica, inteligente e com linguagem acessível, são uma agradável surpresa em um mundo com pressa para passar e sem tempo para pensar sobre as coisas que realmente importam.

Confira abaixo o primeiro ensaio da série:

TRÊS DILEMAS SOBRE O ESTADO (PARTE 1): TAMANHO
por Henrique Mazorque

No início, os seres humanos eram caçadores-coletores que viviam na natureza recolhendo o necessário à sua subsistência. Isso os tornava, por consequência, nômades e sazonais.

Com o domínio da agricultura, desenvolvemos a capacidade de nos fixarmos em determinadas regiões, eventualmente formando povoados. Contudo, a pressão demográfica exigiu a criação de mecanismos mediadores para que a convivência nessas aglomerações se tornasse viável: precisamos abrir mão de determinadas liberdades para adquirir a estabilidade necessária para o convívio coletivo. Assim nasceu o Estado.

O primeiro ponto, então, é entender que o Estado não foi uma nenhuma invenção saída da cabeça de algum burocrata. Pelo contrário: é um produto orgânico da evolução humana, indispensável para a existência das sociedades.

É possível amparar essa conclusão na observação de que sociedades antigas que viveram em diferentes épocas e/ou regiões do globo, sem contato entre si (como o caso das dinastias orientais, das sociedades europeias, e dos maias e astecas no continente americano, por exemplo), evoluíram, todas elas, para formas estruturais de Estado, embora cada uma com suas características específicas.

Esta premissa elimina uma série de discussões hipotéticas acerca da alternativa de extinção estatal, como sugerem algumas correntes anarcocapitalistas.

Posto isso, surge o segundo ponto: uma vez que o Estado precisa existir, então qual tamanho deveria ter? Sem dúvida alguma, esta é a principal discussão político-econômica da atualidade.

Esquerdistas acreditam em um Estado forte, que possa agir ativamente na promoção de uma idealizada justiça social. Em contrapartida, Liberais e Direitistas enxergam-no mais como um suporte para a ação humana e não como um promotor ativo de mudanças na sociedade.

Quais ativistas estão corretos?

Do ponto de vista intelectual, ainda não se chegou a um consenso. Na verdade, ninguém tem essa resposta. Há séculos, as correntes de pensamento divergem absurdamente sobre a questão do intervencionismo, e seria necessária uma vida inteira de dedicação aos estudos apenas para começar a entender este dilema.

Acontece que a imensa maioria dos cidadãos, que levam suas vidas diárias trabalhando e cumprindo suas obrigações, não tem tempo nem interesse para isso. A maioria apenas leva vidas comuns, alheias a questões filosóficas (e práticas) de tal magnitude.

Não obstante, estes cidadãos “alheios” votam. De tempos em tempos, todos se dirigem às urnas escolher os representantes que irão pilotar este Leviatã mal compreendido, tomando medidas que impactarão não só suas vidas, mas o mundo inteiro.

Assim, dentro do Estado inegociável, termos este organismo contraditório – o organismo Democrático.

Como resolver a contradição intrínseca da Democracia, onde cidadãos “alheios” – que são a maioria da população – determinam ativamente a política que gerenciará “alheios” e “não-alheios”?

Explorarei isto no próximo ensaio: TRÊS DILEMAS SOBRE O ESTADO (PARTE 2): DEMOCRACIA

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